Cultura, Notícias

Câmara realiza Sessão Solene em homenagem ao Centro Espanhol de Santos

Em cumprimento ao Decreto Legislativo no 33/2010, a Câmara Municipal de Santos realizou, por iniciativa do Vereador Braz Antunes Mattos Neto, Sessão Solene de outorga da Medalha de Honra ao Mérito Braz Cubas ao Centro Espanhol e Repatriação de Santos. A Solenidade aconteceu na última sexta-feira, 25 de fevereiro, na Sala Princesa Isabel.

O Vereador Braz fez o discurso de saudação. Em sua fala, Braz destacou a história da Entidade fazendo um paralelo com a imigração espanhola; e mencionou também a relação familiar com esta comunidade. “Minha esposa Regina é descendente de espanhóis, e certamente meus filhos Pedro e Julia tem uma boa porção de sangue espanhol. José Montero Fernández, avô de Regina, foi o sétimo presidente do Centro Espanhol de Santos. Sua gestão foi de 1913 a 1915 e também em 1918”.

Braz recebeu de Ricardo Alvarez, atual Presidente do Centro Espanhol, cópia das Atas das reuniões realizadas no ano de 1914, sob a presidência de José Montero Fernández. Em reunião ordinária realizada em 10 de março de 1914, foi lido um ofício expedido à direção do Jornal A Tribuna em 14 de fevereiro do mesmo ano, comunicando que a comunidade espanhola na Cidade de Santos estava doando através do Centro Espanhol 200 mil réis para as vítimas das inundações ocorridas na Bahia naquela época. “…Há ainda na nossa colônia quem conserve nitidamente impresso na memória o belo gesto com que as ilustres damas santistas manifestaram toda a grandeza de sua alma saindo às ruas num célebre bando precatório em que mãos fidalgas se estendiam, implorando uma esmola. Foi quando um violento terremoto, sacudindo as terras de Andaluzia, espalhou sobre aquela formosa região espanhola a fome, o luto e a dor. É, pois, justo que nos concorramos agora para mitigar o infortúnio das populações baianas atingidas pelo flagelo…” (trecho da ata lida pelo Vereador Braz).

Após o discurso, os convidados assistiram à apresentação da Banda “Los Tregada”, formada por Ángel Jardón Acuña (gaita de fole), Salvador Delmiro Magariños Barbeito (tambor), Marcos Santalla Montoto (bumbo) e Irene Santalla Montoto (pandereta).

O Presidente Ricardo Alvarez recebeu em nome do Centro Espanhol uma placa e a Medalha Braz Cubas das mãos do Vereador Braz. Após a entrega da comenda, Ricardo fez uso da Tribuna para proferir algumas palavras.

Alvarez falou sobre o grande trabalho cultural e de benemerência que o Centro Espanhol realizou em seus 116 anos, completados em 6 de janeiro de 2011, e destacou os projetos da nova Diretoria. “Só tenho a agradecer a essa excelente Diretoria, pois sem esse espírito de união não teríamos conseguido nada. Agradeço também ao Vereador Braz, em nome de toda a Cidade de Santos, por esse reconhecimento”.

Após o encerramento da solenidade, os convidados prestigiaram o coquetel oferecido pelo Centro Espanhol e Repatriação de Santos.

DISCURSO DO VEREADOR BRAZ ANTUNES MATTOS NETO, LÍDER DO PPS, NA SOLENIDADE DE ENTREGA DA “MEDALHA DE HONRA AO MÉRITO BRAZ CUBAS” AO CENTRO ESPAÑOL Y REPATRIACIÓN DE SANTOS, EM 25 DE FEVEREIRO DE 2011, NA SALA PRINCESA ISABEL DA CÂMARA MUNICPAL DE SANTOS.

Sras. e Srs……

Estamos celebrando nesta noite a valiosa atuação do Centro Español Y Repatriación de Santos, o nosso Centro Espanhol, em seus 116 anos de existência, em benefício da colonia espanhola e da própria população santista. É uma grande honra entregar nesta solenidade a “Medalha de Honra ao Mérito Braz Cubas”, de acordo com o Decreto Legislativo nº33/2010, de minha autoria, e que foi aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de Santos.

A História do Mundo acontece sempre através do movimento dos povos. Os homens fazem as suas jornadas em busca de uma existência digna e dias mais felizes, aonde os sonhos possam florescer. Ou buscam novas conquistas e vitórias. Carregam na bagagem histórias de vida vividas em outros cantos, sobre outros olhares, outros pensares.

Conservam valores próprios, sentimentos particulares e coletivos, outras formas de enxergar a condição humana. Trazem culturas diversas, outras maneiras de falar, outras línguas, outras convicções.

Quando plantam sementes em novas terras, têm a certeza de que germinarão os frutos da integração. Da convivência entre a diversidade e a solidariedade, surgem novas sociedades.

E assim vieram os povos de Espanha para o Novo Mundo. Ao longo dos tempos, deixariam para sempre influências fortes, decisivas, fundamentais. E até diríamos: abençoadas influências, que muito contribuíram para o desenvolvimento da Nação brasileira.

Vamos admitir a verdade: desde o Descobrimento das Américas, os espanhóis andavam por aqui. Viveram os tempos coloniais, fizeram descobertas, fundaram cidades, traçaram tratados.

Mas a História oficial diz que ocorreram três grandes ciclos migratórios. No período entre 1889 e 1899, de acordo com a preciosa documentação resgatada recentemente pelo governo espanhol, cerca de 175 mil espanhóis desembarcaram no Brasil. A maioria deles de origem galega. Vieram principalmente para trabalhar na agricultura, especialmente nas lavouras de cana de açúcar e café.

O Brasil, então, era visto como um país de grande futuro e muito generoso na acolhida aos estrangeiros.

Entre 1904 e 1914, vieram cerca de 420 mil espanhóis, fugindo dos efeitos da Primeira Guerra ou, então, atendendo ao chamado dos parentes que aqui já viviam.

De 1951 a 1961, vieram mais cem mil cidadãos espanhóis, mão de obra perfeita para atender o nascente desenvolvimento industrial brasileiro.

Entre 1889 e 2001, 709 mil filhos do Reino de Espanha se fixaram em terras brasileiras. Hoje, calcula-se que quinze milhões de brasileiros sejam descendentes de espanhóis, a maioria vivendo no Estado de São Paulo.

Desde os primeiros tempos, Santos foi um dos destinos preferidos. Aqui, os espanhóis representaram o segundo maior grupo de imigrantes, atrás somente dos portugueses.

Hoje, estima-se que vivam na Baixada Santista cerca de 30 mil espanhóis e descendentes.

Importante é dizer que, segundo os historiadores, a Cidade de Santos desenvolveu-se, no período colonial, a partir de um núcleo inicial de origem ibérica, com grande percentual de espanhóis, embora os portugueses fossem maioria. Um dos primeiros espanhóis a pisarem na Baixada Santista foi exatamente o Padre José de Anchieta, nascido na Ilha de Tenerife.

Nada mais natural, portanto, que surgisse em 1895 a ideia de se fundar uma sociedade que congregasse os espanhóis “santistas” e preservasse as tradições ibéricas. E assim foi feito, a partir de um anúncio publicado no “Diário da Cidade”, por iniciativa de Dom José Bojart.

No abençoado dia de Reis, 6 de janeiro, surgiu o “Casino Espanhol”, que teria sua primeira sede na Rua Aguiar de Andrade, no Paquetá, inaugurada em 1897. Como primeiro Presidente da Junta Directiva, foi escolhido Dom Manuel Troncoso, que exerceu seu mandato no biênio 1895/1896.

O nome original foi substituído por “Centro Benéfico y Recreativo Español” e mais tarde, a partir da fusão com a Sociedad de Repatriación, adotou a denominação atual.

Tornou-se desta forma a própria alma da colônia, além de prestar auxílio ao Município em ocasiões especiais. Assim foi em 1916, quando abrigou os sobreviventes do naufrágio do vapor Príncipe das Astúrias; e em 1918, quando foi transformado em hospital, para atender as vítimas da febre espanhola, epidemia que assolou a Cidade.

A História dos espanhóis em Santos é riquíssima e e emocionante. Mas existem alguns pontos fundamentais que é preciso destacar, a começar pelo glorioso Jabaquara, que nasceu Espanha e que mora no coração de todos os santistas.

No comércio, na área trabalhista, na política, na culinária, na cultura e no cotidiano santista existem fortes influências. Os calceteiros espanhóis nos deram o chão para caminhar e os portuários espanhóis nos ensinaram que todos somos homens políticos, mesmo que seja sob o signo glorioso da anarquia, graças a Deus! Reivindicar é preciso, participar é fundamental: eis a herança espanhola que, aos poucos, foi construindo para Santos a imagem de cidade vanguardista e politizada.

Quanto aos calceteiros, trabalhadores especializados em assentar os paralelepípedos nas ruas, é preciso contar uma historinha rápida: os galegos são famosos por sua habilidade em trabalhar com pedras, pois na Galícia as grandes propriedades eram divididas entre os herdeiros, e a própria família era encarregada de construir muros divisórios, feitos de pedras cortadas e justapostas. Em Santos, a habilidade virou ofício.

Hoje, entre outras atividades, o Centro Espanhol mantem a Escola de Língua e Cultura Alfonso X, El Sabio, que completou 25 anos de atividades; O Grupo Folclórico Caminos de España e o Coral Cantares de España. Sem contar com o Consulado de España, que funciona na sede do Centro Espanhol, tendo como Cônsul Honorário o Sr. Manoel Santalla Montoto.

Pessoalmente – além de ter torcido muito pela Espanha na última Copa do Mundo, principalmente após a eliminação do Brasil -, tenho orgulho em dizer que a hispanidade é um importante fator integrante da minha família. O avô da minha esposa Regina, Dom José Montero Fernandes, presidiu o Centro Espanhol de 1913 a 1915 e também em 1918, sendo o sétimo Presidente da Entidade. No mínimo, meus filhos Pedro e Julia carregam uma generosa porção de sangue espanhol.

Na política, modestamente sou o autor da lei que institui a a Semana de Santiago Apóstolo, em Santos.

E tenho felizmente grandes amigos ligados à Espanha, como é o caso do meu prezado Pedro Zwoelfer Troncoso, atual Diretor de Relações Públicas do Centro Espanhol e um grande incentivador de todas as manifestações em defesa da preservação da cultura e das tradições ibéricas.

E tenho, assim como acredito que muitos santistas também, a Espanha no coração.

Pois é sempre importante rendermos nossas homenagens agradecidas a quem veio antes de nós, a quem nos deu passagem, nos mostrou o que é a vida e o mundo, como nos relacionamos com os outros e como nos amamos. Somos todos na verdade filhos dos ibéricos e exercitamos até hoje um certo jeito galego de falar. Devemos aos galegos, com certa influência romana, o próprio idioma português.

O Poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939) escreveu o seguinte:

“Nossa horas são minutos
quando esperamos saber;
séculos quando sabemos
o que se pode aprender”.

É por todas essas razões que hoje, com toda a humildade possível, quero homenagear todos aqueles que um dia passaram pela direção do Centro Espanhol, todos os diretores atuais e suas famílias, bem como toda a Colônia Espanhola.

Logicamente, aqui cabe menção especial ao atual Presidente, Ricardo Alvarez, que tem exercido um mandato de altíssimo nível, empenhando-se dia a dia em busca da revitalização permanente do Centro Espanhol. Além disso, merece meus sinceros agradecimentos, pela forma dedicada e abnegada pela qual auxiliou a realização dessa solenidade.

Todos nós, de forma geral, devemos o descobrimento das Américas aos reis de Espanha. A nossa origem como Nação, portanto, está ligada intimamente à Espanha. Da mesma forma, os espanhóis tiveram papel fundamental na colonização brasileira. E o desenvolvimento de Santos tem muito a ver com nomes de matriz espanhola, como Cortez, Vallejo, Santiago, Lopez, Vasquez, Gonzalez e tantos outros.

Eis as razões pelas quais a solenidade de hoje é mutio mais que uma homenagem ao Centro Espanhol: é a nossa forma de agradecer a todos os espanhóis e seus descendentes pela formação e construção da Cidade que temos hoje; e também pelas pessoas que somos hoje, que tanto aprendemos com os celtas, os íberos, os mouros e os galegos; com Goya, Picasso, Dali, Miró, Arrabal, Casals, Buñuel, Segóvia e Garcia Lorca, entre tantos outros.

Parabéns a todos e boa noite.

Braz Antunes Mattos Neto
Vereador – Líder do PPS.