Artigos

O trabalho de todos nós

Colunista: Braz Antunes Mattos Neto
Fonte: Braz Antunes Mattos Neto
Demitir, desregular, flexibilizar. Estes são os princípios do pensamento atual sobre o trabalho. Interesses individuais e de grupos imperam e a desinformação domina o cenário. E os problemas multiplicam-se.
A classe trabalhadora, ao comemorar o seu dia, deve reservar parte da sua energia para propor uma grande mobilização que tenha por objetivo a união e a integração de todas as categorias. A cultura cotidiana brasileira costuma segregar algumas profissões, principalmente aquelas que antigamente eram tidas como formadas por profissionais liberais. Esta visão costumava considerar como “trabalhador” somente aqueles que eram operários.
O tempo se encarregou, com todas as implicações inerentes, de se mostrar que todos somos trabalhadores. Sem necessidade de distinções, preconceitos às avessas ou quaisquer discriminações. Ao contrário, a realidade que se impõe evidencia a necessidade imperativa de haver uma comunhão de objetivos de todas as categorias.
É trabalhador, igual a tantos outros, o médico que hoje se vê obrigado a ter múltiplos empregos, a fazer horas extras até seu limite máximo. O mesmo ocorre com meus colegas de profissão, os cirurgiões-dentistas, que muitas vezes não tem folga, são convocados em casos de emergência e convivem, hoje, com a falta de postos e trabalho. No mesmo exemplo podem ser incluídos os engenheiros, os psicólogos, os assistentes sociais, os advogados, os policiais, os jornalistas e também os professores, entre tantos outros.
É óbvio que, em diversas categorias, o achatamento salarial gerou ampla mudança. Por exemplo: cada vez mais as chamadas profissões universitárias são submetidas à política salarial vigente e a esmagadora maioria atualmente está inserida na classificação de assalariados. E como tal, sujeitos aos conflitos entre capital e trabalho.
Em conseqüência, multiplicam-se os movimentos reivindicatórios visando a elevação de pisos salariais, da mesma forma que fazem, por exemplo, os metalúrgicos, os petroleiros e os trabalhadores portuários.
O que se impõe é que passe a vigorar uma visão da importância social de cada uma das diversas profissões, para que a união e a comunhão de interesses permita, antes de mais nada, a melhoria das condições de vida de toda a população. E o respeito mútuo entre nós, os trabalhadores.
Pois, a valorização dos trabalhadores e repito, todos os trabalhadores e do trabalho é fundamental para a elevação e desenvolvimento da sociedade. E a melhoria das condições de vida e sobrevivência de toda a sociedade deve ser, em última análise o objetivo supremo e final de qualquer sistema econômico.
Estas questões evocam a extrema necessidade de que o capital e o trabalho, hoje, negociem de forma madura mais do que reajustes salariais ou barganhas envolvendo a flexibilização de direitos, como tanto se fala atualmente.
As negociações devem e precisam ser situadas, também, dentro da ótica do avanço social e do aperfeiçoamento das instituições, para que seja possível enfim estabelecer os parâmetros para que possamos alcançar um futuro melhor, mais sério e mais maduro.
Afinal, os empresários têm igualmente a sua responsabilidade como trabalhadores e como dirigentes. E devem ter a consciência de que é preciso corrigir os rumos atuais dos meios de produção e das condições de trabalho e de sobrevivência. Da mesma forma com que precisamos, com urgência, modificar o próprio relacionamento entre as pessoas.